segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sobre a minha real finitude...




"Oh, Deus / Que faço dessa felicidade ao meu redor / Que é eterna, eterna, eterna / E que passará daqui a um instante? /  Por que o corpo só nos ensina a ser mortal?"
                                                                                                                                                                 Clarice Lispector



Oi, Pessoas!

Fiquei impressionada com o tempo que levei para a nova postagem...quase dois meses!!! Não senti o tempo passar...bom, também com taaantas e taaaantas coisas acontecendo, vida que flui, enfim. Aliás, a vida passa como se fosse a queda de uma cachoeira, do tipo vazão forte. Amo cachoeira, acho meio transcendental, meio místico, meio mágico. Aquela água cristalina, intensa, natural e forte...putz! ADOROOOOOOO!!!! Tirei essa foto na Serra Gaúcha, lugar que amo!!!

Creio que já tive a oportunidade de escrever que me identifico profundamente com os escritos de Clarice Lispector. Mas, ao me deparar com a pergunta "Por que o corpo só nos ensina a ser mortal?", senti que alguma coisa se desprendia do meu corpo....seria mesmo do meu corpo? Ou seria da alma? Passei dias tentando nomear o que me percorria. Não chegava à conclusão alguma. Assim, resolvi dialogar e, ainda sem uma conclusão, decidi chamar essa "coisa" de ISSO. É isso: ISSO.

ISSO passeava, corria, rolava, sorria, chorava, zombava. ISSO dialogava com os órgãos, com os tecidos, com as células, com a energia, com a prótese, com o coração. Com o coração?! Nãooo!!! Pedi, num tom desesperado:

- "ISSO, deixa o coração em paz! Ele está quieto, sem apresentar alterações, por favor, não brinque com ele!".

- "Por que não?! Ele é tão finito quanto você! Tão irrequieto como você".

- "Ah! Não, não, poupe-o! Deixa que eu acredite que ele é imortal, tão eterno e infinito quanto eu mesma!".

- "Você é realmente um espetáculo! Quanta tolice! Não está vendo o quanto ele se debate? Ilusão a sua achar que ele está calmo e que é imortal! Quer que eu lhe conte o que ele me confidenciou?"

- "Não!", respondi assustada.

- "ISSO, por favor, volte de onde você veio. Olha só, podemos fazer um trato..."

-"Tarde demais para estabelecer tratos....você me libertou, agora me aguente!".

- "Sabe o que mais? Você é um tirano! Fique onde quiser, aloje-se onde bem entender, eu é que não vou mais sentir você: vou lhe ignorar. Tô nem aí pra você!".

- "Ai, ai, como se isso fosse possível..."

ISSO terminou o diálogo com aquele jeito demoníaco de quem domina a situação e de quem zomba da inquietude alheia. Logo agora que estava me sentindo imortal, plena? Justo agora que achava que gozava da liberdade dos imortais? Logo agora que estava para estabelecer um diálogo com Clarice Lispector defendendo a tese sobre a  leveza da infinitude? Ia dizer a ela que o meu corpo me reportava à imortalidade, que era infinita, que descobri coisas interessantíssimas sobre o ser imortal.

ISSO me derrubou no chão, riu de mim, ridicularizou-me e pôs diante de mim aquilo que não desejava ver de forma alguma: por mais que me esforce para ser infinita, arde em mim um sentimento altamente mundano, finito, que insufla o corpo e a alma. Sim, ele está à flor da pele, plenamente tangível, desabrochado. Ganhou cor, forma, sabor, cheiro e nome!

- "Responda-me, ISSO, tudo isso não seria o famoso veu de Maya? Acredito que isso é uma ilusão, eu..."

- "Tsc, tsc, tsc....você é tão finita quanto infinita, minha cara. Não aja como se as duas coisas fossem separadas. Aprenda! A grande arte, a grande mágica da vida está em unir o que é aparentemente inconciliável. Entendeu o que eu disse? APARENTEMENTE. Aceite-se mortal e imortal, sem culpa, sem medo...ah! Essa culpa judaico-cristã...tsc, tsc, tsc. Então viva...e viva-me!".

- "Mas quem é você, então?"

- "Muito prazer, eu sou a PAIXÃO! É isso (com minúsculas): põe aí, PAIXÃO (com letras maiúsculas)".

- "E o que eu faço com isso, que não é mais ISSO, que virou PAIXÃO?"

- "Viva-me até cansar....quem sabe não se transforma em amor?"

- "Você tem noção do que está me pedindo? Sabe o que vou ter que fazer para viver essa PAIXÃO, ou melhor, viver você? Escalar o Monte Everest mais o Himalaia. Sabe qual pode ser o resultado dessa soma (aliás, o mais provável)? DECEPÇÃO (com todas as maiúsculas possíveis)".

- "Bem-vinda ao mundo dos mortais e da finitude, querida!".


Ah! Bem que Clarice estava certa: não é só o corpo que me dá a sensação de finitude, mas a felicidade, que me parecia tão eterna, também é finita.


Beijos historiados,
Alê