sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A artroplastia, a coxartrose e eu 2!



Oi, Pessoas!

Em primeiro lugar, quero agradecer a todos, porque esse blog tem "bombado"! Valeu, galera!

Procurei uma foto que retratasse exatamente tudo o que sinto nesse momento. Vasculhando meu arquivo de fotos, encontrei essa, tirada de um avião. Toda vez que viajo na janela do avião (sempre peço esse assento) tenho a sensação de tocar o ceu com as pontas dos dedos.
Gente, hoje quero compartilhar a minha alegria: fim das dores e das muletas!!! É isso aí, LIBERDADE!!! Não me lembrava mais como era caminhar sem dores e sem estar "torta". Difícil descrever essa sensação...só consigo sentir, mas não exprimir. É como diz Bob Dylan: "That long black cloud is coming down/I feel like I´m knocking on heaven´s door". A minha noite foi longa....muito longa e as nuvens pesadas. Mas nada mais colorido, lindo e deslumbrante do que colorir a própria vida...e ver o alvorecer! Com matizes vibrantes. Celebro a vida, na qual jamais deixei de acreditar.

Permaneci ao longo de três meses dentro de casa, sem colocar os pés na rua. É isso mesmo: três meses. A artroplastia de quadril tem uma recuperação causticante. Quem fez me disse: "Pior do que as dores só a recuperação. Prepare-se!". Não acreditei, pois pensava: "O que seria pior do que sentir essas dores lancinantes?". Só se sentir desprovido de liberdade e de autonomia no momento do pós-operatório! Foi aí que entendi o recado. É óbvio que cada um terá a sua vivência...é claro que, neste espaço, descrevo a minha. Foi dessa forma que vivenciei o pós-op. Tive que criar coragem, paciência (muuuuita paciência), resignação e ir me libertando paulatinamente dos meus grilhões...físicos e psíquicos. Podem acreditar que eram pesados! Mas, hoje, ganho novo fôlego, tento me revestir do meu melhor, garimpar os diamantes que essa experiência deixou. Se você passa por um período difícil na vida certamente levará coisas boas dele, sobretudo se conseguir vencer muitas coisas em si mesmo. Acho que consegui lapidar algumas coisas em mim. Esse foi o sentido dessa experiência. Assim foi a forma de lidar com isso: apesar de tantas dores, procurei extrair o melhor que pude dessa situação e me tornar alguém 0,0000000001% melhor.

Bom, agora o objetivo é ganhar massa. E entrei na musculação. Pois é, gente, quem me conhece sabe que sou um tanto avessa a essas coisas, mas estou indo imposta mesmo, pura necessidade. Meu primeiro dia de ralação foi ontem. Encontrei profissionais super legais, acostumadas a trabalhar com paciente que tenham feito artroplastia, o que facilitou a elaboração do programa de musculação. No primeiro dia fiquei totalmente perdida...quem disse que entendia alguma coisa daquelas aparelhagens? Afinal, o que eu amo mesmo é o ser humano, não aqueles aparelhos. De mim para comigo, pensei: "Creeedo! Como é que eu mexo nessas coisas? Nunca pude fazer musculação na vida! Help!!!". Apesar de toda ajuda que obtive, sentia-me um "ET" no meio daqueles músculos ambulantes. Ao ponto de uma pessoa me encontrar no estacionamento após a aula e dizer: "Oi! Eu estava na mesma turma de musculação que você. Você vai adorar as aulas! No início é assim mesmo, a gente fica meio perdida, cansa muito, mas é super legal! Boa sorte!". A pessoa nem me deixou falar...mas falar pra que tb? A minha expressão já traduzia o que ia no íntimo: desconforto numa esfera que não transito bem. Tratei de me olhar logo no espelho, o qual tb zombava de mim. Como pode? E olha que era bailarina (antes do acidente), nadava pacas, fiz travessias (antes da dor), mas a musculação é um desafio pros meus bíceps, tríceps, quadríceps, gluteos, pernas (pobres panturrilhas!). Adoro esteira, mas odeio bicicleta! Enfim, não é que tudo isso já começa a fazer a diferença? Não é que a musculatura fica um tanto mais forte? Pensando pelo lado positivo, até que acho uma boa, porque vou sarar as pelancas. Ou vocês pensam que não pedi para malhar os braços?

- "Quero tudo inteiro e por igual, tá? Já que tô na chuva...Ah! Eu quero tanto sarar o abdome tb...é possível? Não traz prejuízo à prótese? Pelo amor de Deus, essa coisinha fofa que me habita é filha única de mãe solteira e pai desconhecido! Preciso perder peso, porque desejo voltar a vestir 36".

- "Relaxa!", palavra de ordem do professor, rindo das minhas loucuras.

-"Mas não tô estressada!".

O bom é que não senti dor ou desconforto na musculatura ou mesmo na prótese. O programa traçado pelos profissionais está sendo super eficaz. Vou contar o meu grande fetiche na musculação: olhar, na esteira e na bicicleta, as calorias perdidas. Que estímulo! Quase coloco as vísceras pra fora, mas me sinto realizada pela perda de calorias. Depois, vou direto na balança! Isso tem cara de que vai virar um ritual.

E o meu encontro com a rua? Quem está acostumado a uma vida ativa, trabalhar, movimentar-se minimamente não se habitua a ficar três meses de molho. Portanto, o meu encontro com a via pela qual a vida circula foi massa (massa vira até adjetivo, além de palavra de ordem)! As ruas cinzas que circundam o hospital ganharam uma cores toda especiais. Era o primeiro lugar de "visita" após a artro. Respirava a longos haustos o ar (mesmo abafado e cinza) do centro da cidade. Que bom ver as pessoas circulando. Seriam mesmo reais? Tudo aquilo era real? Pedi à minha mãe que me beliscasse, porque aquele reencontro era surreal demais! Estava viva! Finalmente me sentia viva! Vivacidade maior senti quando soube que poderia deixar as muletas. A princípio a ficha não caiu...não conseguia ouvir aquilo. Pedi ao médico que repetisse; indaguei-me se aquilo não seria um sonho. Se o fosse, não desejava acordar. Estava bom demais! Aliás, tive a impressão de que ele mesmo ficou surpreso com a evolução, se é que não estou errada. Sim, agarrei a oportunidade com unhas, dentes e tudo o mais que fosse preciso para retomar a minha vida. Queria muuuuito, muuuuito, muuuuito viver sem dores e sem muletas, se assim fosse possível. E foi!

Ah! E o reencontro com os meus amigos? Gente, quanta emoção! Eu, que sou meio "dura na queda", peguei-me chorando várias e várias vezes. Rever todos, ir aos lugares que sempre amei me fizeram revigorar. Pasmem vocês, a grande maioria das pessoas se emocionava com o meu retorno. Alguns pareciam que viam um fantasma à frente, não acreditavam, levavam um susto de verdade, ao ponto de até eu me assustar com o susto do outro! Difícil será esquecer esses momentos de troca de afeto.

Estou em paz comigo...é um momento de renascimento, de emergir de águas profundas, de experimentação, de me revisitar. Não posso expressar o que sinto sob risco de ser extremamente reducionista. Porém, o que posso dizer é: VALEU A PENA!!!

Bjks!